quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MONOGRAFIA DE HISTÓRIA ANTIGA

O MONOTEÍSMO
 
AUTOR: CLAUDIO  LEAL

PORTO ALEGRE, NOVEMBRO 2002.


INDICE


1- Considerações Iniciais.....................................................................03
2 – Introdução........................................................................................07
3 – Uma Construção...............................................................................09
            3.1 – Surgimento da nação hebraica..........................................09
            3.2 – Monoteísmo hebraico........................................................11
            3.3 – Histórico da Teoria Documental do Pentateuco................18
4 – Outra Construção...............................................................................22
4.1 – Evidências arqueológica pela antiguidade do Pentateuco...23
4.2 – Evidências positivas da autoria mosaica...............................26
4.3 – Fraquezas e falácias da teoria wellhausiana .........................28
5 – Conclusão................................................................................................32
6 – Bibliografia..............................................................................................34

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O tema que escolhi invade um campo bastante vasto e controverso,  não somente no campo da ciência histórica, como  também em outras ciências.
 Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra ciência humana, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente à cultura humana, assim como as artes e as técnicas.
Grande parte de todos os movimentos humanos significativos, tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, foram de ordem religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.
Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteviram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.
Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, e muito provavelmente sempre continuará sendo. Então é necessário a seguir, fazer um apanhado significativo de vários termos, como religião, seita, mitologia, heresia, mística e deísmo, que envolvem o assunto que vamos tratar.

O que é, ou o que significa religião?
Deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico filosófico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.
Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo.
O que é Seita?
É derivada da palavra latina "Secta", nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião.
O que é heresia?
É outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judaica, assim como o Protestantismo é uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta.

O que é mitologia?
É uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião.

O que é mística?
pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material, mágico. Um "Mistério".

O que é deísmo?
Sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina e, portanto, as autoridades de qualquer Igreja, aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo.
Existem quatro tipos de religiões ou posturas religiosas principais: As Panteístas, as Politeístas, as Monoteístas e as Ateístas. Nessa divisão há uma ordem cronológica, histórica, por isso farei uma explanação suscinta de cada uma delas:

PANTEÍSTAS são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais "primitivas". Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, européia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo e populações animais. Todas essas religiões são primitivas, sem escrita, com exceção é claro dos NeoPanteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da tradição oral e de vestígios arqueológicos. Exemplos de religiões panteístas: silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc.
  POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo. As politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas nenhuma possui uma REVELAÇÃO propriamente dita. Com a influência racional em franca ascensão tenta decifrar as transcendentes essências espirituais da natureza., onde os elementos divinos são então personificados com qualidades cada vez mais humanas. Exemplos de religiões politeístas: Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião Azteca, Maia etc.
 MONOTEÍSTAS -  É a que trataremos nas próximas folhas. São mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade. São religiões oriundas de “REVELAÇÃO”. TODAS as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. Não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania absoluta de uma..  Exemplos de religiões monoteístas: Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo.
 ATEÍSTAS - embora possa parecer estranho, existem religiões, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como uma reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas. Também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos. Negam simplesmente a existência de um Ser Supremo central, que tudo tenha criado e a tudo controle, ou mesmo divindades que influenciem o mundo físico. Acreditam de um modo geral e absoluto que os seres humanos é que são os manipuladores ideológicos motivados meramente por razões políticas, econômicas e sociais que permeiam a estrutura da própria humanidade. Exemplos: Orientais: Taoísmo, Confucionismo,Budismo,Jainismo.Ocidentais: Filosofias NeoPlatônicas, Positivistas e Ateísmo Filosófico (Não Religioso).


2. INTRODUÇÃO

O trabalho que me propus a realizar, exigiu de mim, depois de algum tempo ao longo do estudo, o envolvimento com os mais variados assuntos, inclusive fascinantes que quase me levaram a abandonar este tema por outro, mas que de qualquer forma me levaram a ter um entendimento maior não somente a respeito do surgimento do monoteísmo, sua importância, me detendo no monoteísmo hebraico que contém a base do monoteísmo cristão e mulçumano, bem como também estar me envolvendo em um tema que  me leva a discorrer através de várias fontes de uma maneira antropocêntrica, ou seja considerar a história meramente como obra de pessoas, interpretando-a numa postura marxista e Welhausiana, mas também teocêntrica, sem deixar de observar os fatos históricos e antropológicos, tendo em vista que não podemos desprezar  a importância que a religião teve e tem em todas as civilizações e como já foi comentado, não há sociedade que não tenha uma crença em deuses superiores, se não for assim,  teremos no meu entender uma visão incompleta, se vermos o assunto somente de um ângulo materialista. Exporei as considerações de alguns historiadores que tiveram tanto uma, como outra  interpretação da história do Monoteísmo Hebraico e desta forma vêem e interpretam o assunto de maneira diferente, mas que se torna interessante e pertinente, em virtude do assunto levar a indagações, que tentaremos levantar e ao mesmo tempo responder.
O Oriente Médio, pelas pesquisas feitas até agora, é considerado o berço das primeiras civilizações e também do surgimento das primeiras religiões e sistemas mitológicos. Caberia destacar que se deve aos sumérios  a evolução dos primeiros cultos à natureza e a primeira redação do célebre Poema de Gilgamesh, herói que quis alcançar a imortalidade, cujo mito foi depois reelaborado por acádios e assírios e que de acordo com especialistas influenciou a mentalidade de quase todos os povos semitas da antiguidade, inclusive os hebreus.
O fato de que em todas as civilizações antigas se cultuassem vários deuses, com exceção de Israel, uma nação que não tinha aparentemente um grande poder econômico, eram de origem nômade, mas que se comprometeu a adorar e consolidar culto a um único Deus e não somente isso, mas considerar esse Deus, um Deus universal e pessoal, criador de todas as coisas, levando esse culto e sua ideologia até os nossos dias através do Cristianismo, enquanto outros sistemas religiosos de poderosos impérios da Antiguidade, desapareceram por completo, me chamou a atenção para tentar achar alguma coisa, inclusive o que está transcrito na Bíblia dos judeus, o que para muitos historiadores é considerado documento de valor histórico e imprescindível para tentar também, entender os primórdios da civilização humana, bem como do aparecimento do Judaísmo. A Bíblia para outros não tem tanto valor pois consideram que nela existem muitos mitos e manipulações ideológicas que são motivadas por razões econômicas, políticas  e sociais.
Judeus, cristãos e muçulmanos fundamentalistas não suportam a idéia de que parte da Bíblia possa ser fruto da imaginação de seus autores. No outro extremo, ateus e materialistas zelosos, não se cansam de procurar evidências para provar que tudo que está lá não passa de história da carochinha. Se fizessem algum esforço, as duas correntes poderiam concordar em alguma coisa. A ciência costuma dar razão a ambas, pelo menos em parte.
O meu objetivo é mostrar o que os pesquisadores acharam e interpretaram  relativamente à religião dos antigos hebreus, a razão da sua existência e se ela é muito remota ou não.
 Como aparentemente a religião hebraica está muito ligada à própria nação e surgimento da mesma, terei que expor alguma coisa do significado de Hebreu, Judeu e Judaísmo, da região da palestina, onde foi concebida essa religião bem como seus descendentes históricos e culturais que influenciaram a formação do  povo hebreu e conseqüentemente do Monoteísmo Hebraico.  


3. UMA CONSTRUÇÃO

COMO SE EXPLICA O ÚNICO DEUS DA BÍBLIA?

COM O POLITEÍSMO DOS POVOS PRIMITIVOS?

3.1. SURGIMENTO DA NAÇÃO HEBRAICA 

Origem do povo hebreu

Os primeiros livros do antigo Testamento não nos oferecem nenhuma documentação direta sobre as origens do povo hebreu. Referindo-se unicamente às crenças existentes na Palestina, entre os séculos V e III a.C., e a respeito dessas origens, a grosso modo, no mesmo período de tempo floresceram a literatura da Grécia clássica e a literatura latina dava seus primeiros passos. Sendo a história documentada de quase todos os outros povos antigos do Oriente e do mundo mediterrâneo, alguns milênios mais velha.


A Palestina

A religião hebraica, ao contrário do que habitualmente se pensa, formou-se em idade bastante recente. Houve a contribuição das mais variadas civilizações do Oriente: Fenícios, Assírios, babilônios, herdeiros da cultura sumeriana, os egípcios e os hititas, sem falar nas populações indo européias, cuja contribuição à primitiva história de Israel é talvez mais importante do que se pense..

Primeiros documentos achados

Os primeiros documentos nos quais os hebreus  são mencionados datam do século XIV  a. C. e uma inscrição egípcia do ano de 1.225 a. C. sobre as tribos que viviam na faixa de terra da atual Palestina.  
 Populações antigas e Geografia

Populações e gentes  de línguas e civilizações profundamente  diversas, umas de origem semítica (fenícios, cananeus) e outras provavelmente de origem indo-européia (filisteus), habitavam há dezenas de séculos a Palestina, antes que os hebreus penetrassem violentamente, de armas na mão, nesta faixa de terra que se estende entre o Mediterrâneo e o deserto arábico, limitada ao Norte pelas cadeias montanhosas da Síria (monte Ermon), ao sul pelo território egípcio (deserto idumeu), e é dividida em duas partes pelo vale do rio Jordão, que nasce no monte Ermon, atravessa o lago Tiberíades e desemboca no mar Morto.
As primitivas populações hebraicas faziam parte das tribos errantes, do tipo dos beduínos, ainda hoje localizadas no deserto arábico, que se deslocavam continuamente em direção à costa, procurando territórios onde pudessem se estabelecer, lutando com os grupos humanos que precedentemente tinham-se fixado nos mesmos lugares, exercendo a agricultura e formas mais aperfeiçoadas de pecuária.
Caráter combativo

O caráter combativo destes povos é demonstrado pela própria etimologia do seu nome..  Israel, ou melhor os “filhos de Israel”, no coletivo, significa muito provavelmente “aquele que combate”, “aquele que vence”, “o guerreiro”. A tradição bíblica pretende que o herói nacional Jacó, considerado o pai das 12 tribos, tivesse passado a se chamar Israel depois de vencer a luta contra o anjo de Deus, antes com o próprio Deus (Gênesis Cap XXXII, vers. 24 e seguintes); mas trata-se apenas da tentativa de dar uma explicação mítica a um nome que não parecia mais justificado pelos fatos. 

 O termo hebreu e judeu

O termo hebreu de uso comum em época mais recente, poderia significar “o nômade”, “o rapinador” segundo uma etimologia aceita por muitos estudiosos, ou segundo outros, “aquele que habita do outro lado do rio” (ibri), podendo ser esse rio tanto o Jordão na Palestina como o Eufrates na Mesopotâmia para indicar precisamente os clã nômades que pressionavam do deserto sobre as terras férteis e irrigadas da Palestina. São estes os chamados khabiru ou khibiru mencionados nas tábuas egípcias de El-Amarna, no século XIV a.C., nos tempos de Amenófis IV.
Quanto ao nome de judeus, que era ligado a  apenas uma das tribos de Israel, a de Judá ou Yehudi, e mais tarde foi dado por extensão a todo o povo hebraico, depois da destruição do reino meridional por obra dos babilônios,  não tinha na Antiguidade aquela inflexão depreciativa que adquiriu em muitas das línguas modernas. Mas esse termo é o mais apropriado para indicar a sua religião, Judaísmo, que assumiu formas precisas exatamente a partir do século VI da era antiga, depois de perdida a independência nacional.

 O nome,  Palestina e a sua ocupação

O nome,  Palestina, originariamente indicava apenas a pequena faixa costeira de Jafa para o Norte e que foi dado depois, por extensão, a toda a região, significa literalmente “o país dos filisteus” (Pelishtim). A ocupação hebraica aparece quando dos grandes deslocamentos de tribos beduínas que se verificaram no século XII a.C. e assinalam entre outras coisas, a transição de amplos aglomerados humanos de nomadismo à vida sedentária, da vida pastoril  a formas rudimentares de agricultura, em seguida à descoberta de novos instrumentos de produção (passagem dos utensílios de pedra aos utensílios metálicos).

3.2. MONOTEÍSMO HEBRAICO

 Monoteísmo Primordial

O estudo da evolução religiosa da humanidade não conhece nem um período primitivo, caracterizado pela fé num “ser supremo”, nem um desvio posterior no sentido de formas grosseiras de animismo e fetichismo, ou idolatria.

 Surgimento

A história da religião hebraica surge no momento em que das várias tribos e gentes em que era subdividido o povo de Israel se originam as primeiras instituições monárquicas. De muitos chefes para um só chefe; da fé em muitas divindades, surge lentamente a idéia de um só ser supremo, que inicialmente se apresenta como “mais forte” do que todos (enoteísmo, ou melhor monolatria, culto de um deus hierarquicamente superior) e depois como “único”, excluindo-se qualquer outro (monoteísmo no sentido mais exato).  

Monoteísmo – reflexo da economia

A fase de evolução religiosa corresponde também na Palestina àquela fase da passagem a formas mais diferenciadas da sociedade escravista, quando o desenvolvimento dos meios de produção começa a determinar relações mais precisas de sujeição entre os homens.  O aperfeiçoamento da fundição e do trabalho dos metais, a utilização do arado de ferro, os progressos da agricultura, a consolidação do regime de trocas comerciais e a difusão de guerras de conquistas são dados para se analisar como surgiram e se desenvolveram estas novas condições de vida social e espiritual entre os homens. A ideologia é um “reflexo” da economia.
A concepção monoteísta não podia ter predominado na mente dos israelitas antes de terem experimentado o tipo de organização econômica e social do regime monárquico.

Desenvolvimento autônomo do Monoteísmo

A crença num só Deus, defendida pelos profetas judeus do século VII-VI, desenvolveu-se depois independentemente das causas que explicam a sua origem, adquiriu força autônoma e terminou reagindo profundamente sobre a história e sobre a estrutura do mundo hebraico.
            
Formas religiosas  evoluindo em paralelo com a economia

Desde o surgimento da comunidade primitiva, diversas formas de vida religiosa acompanharam a sua passagem gradual  à economia escravista. O culto dos animais, das plantas, dos fenômenos naturais, das águas e das nascentes, referente à fase totêmica da vida tribal, domina a parte mais antiga da bíblia, mascarada por preocupações polêmicas e pela incompreensão dos seus últimos redatores, sendo dessa mesma época as prescrições rituais como tabus alimentares e a prática da “circuncisão” de uma sociedade nômade, dedicada basicamente à caça e a pecuária. 

 Serpente e Touro – marcas na prática religiosa

A serpente e o touro são os dois animais que deixaram as marcas mais profundas na prática religiosa de Israel.
Como totem e como deus da fertilidade, a serpente surge no primeiro plano em toda a Palestina; da narrativa da tentação de Adão à “serpente de bronze” de Moisés, destruída pelo rei Ezequias no século VIII a.C., a tradição bíblica oferece-nos testemunhos freqüentes e pitorescos. O nome da serpente, seraph, está na raiz de serafins, os anjos alados que montam guarda no trono de Deus; é muito provável que na arca santa, mandada construir por Moisés, estivesse guardada uma serpente viva, símbolo do deus Jeová, nascido no deserto e às vezes identificado também com o touro, o vento, o fogo, a pedra, o monte, a nascente. O nome dos primeiros sacerdotes de Jeová, os “levitas”, está ligado ao culto das serpentes. O termo Iawah, que significa desenroscar-se, torcer-se, arrastar-se, e a etimologia do famosíssimo Levi-athan, o deus dragão dos primeiríssimos mitos hebraicos, leva-nos ao mesmo conceito.
Quanto ao touro, as coisas se mostram ainda mais claras. O grande sacerdote deste culto professado no norte da península sinaítica, era Arão, o lendário irmão de Moisés. Mais tarde em sinal de desprezo, a Bíblia falará do touro apenas como de um bezerro, mas permanece o fato de que, ainda na época dos reis, o culto de Jeová, era caracterizado por estatuetas douradas de dois touros (bezerros), que eram expostos à veneração dos fiéis (I Reis, XII,Vers.28;II reis X, Vers 29; XVII, Vers. 16). O culto de um deus tauriforme da fertilidade, difundido em toda a bacia do Mediterrâneo, deve ter alcançado um tal grau de desenvolvimento entre os hebreus, que na narrativa do Deuteronômio, XXXIII Vers. 17, o próprio Moisés agonizante, ao abençoar as doze tribos de Israel, atribui o sobrenome de “touro majestoso” à descendência do primogênito de José, Efraim, que tem “chifres de boi selvagem”. Esta última observação autoriza-nos a duvidar da explicação comumente dada a respeito da estranha representação de Moisés na arte, com os chifres na fronte, como na estátua de Miguel Ângelo. Interpreta alguns que isso deva a um erro de tradução latina da Bíblia: “A pele do rosto de Moisés resplandecia”, que a Vulgata torna: “O rosto de Moisés era cornudo” (Êxodo XXXIV, Vers.29-30). É verdade que “corno” e “raio” são escritos em hebraico com as mesmas consoantes e que poderia haver uma confusão, mas é muito mais verossímil que a expressão esteja ligada a sobrevivências totêmicas, que mais tarde se tornaram incompreensíveis e absolutamente ofensivas a ponto de obrigarem a uma interpretação diferente.

Origem do nome Elohim

O povo hebreu quando de suas migrações repletas de riscos e contrastes e estando ainda no deserto arábico, elaboraram uma das crenças dos nômades: a idéia de forças misteriosas, mencionadas ora no singular e ora no plural, que acompanham a tribo na sua marcha, numa caixa levada às costas, na qual  repousam durante as longas paradas (el, elohim). A crítica bíblica pôde separar os dois documentos fundamentais da velha tradição religiosa hebraica, os quais freqüentemente referem-se aos mesmos mitos: aquele que chama a divindade pelo nome de Elohim e aquele que usa o nome Javé. Mas não é fácil estabelecer qual dos dois é mais antigo, em virtude do processo de reelaboração a que estes textos foram submetidos durante e depois do período do exílio, sob a influência dos profetas e das castas sacerdotais do século V-IV.
O termo El é encontrado entre os outros nomes de divindades nas tábuas de argila em língua ugarítica, descobertos por Schaeffer entre 1929 e 1933 em Ras Shamra, nome árabe da antiga Ugarit, nas regiões mais setentrionais da Palestina, e atribuídas ao século XIV a.C., algumas vezes acompanhado por uma palavra feminina, resíduo talvez de uma longínqua idade matriarcal.

Origem do nome  Javé

Agora a forma exata do outro termo, Javé não pode ser fixada com segurança, pois até a época próxima do cristianismo este nome era reproduzido nos textos hebraicos com as letras do alfabeto fenício, há muito tempo substituídas na prática corrente pela escrita “quadrada” usada até hoje, e a sua pronúncia era mantida em segredo por motivos de concorrência mágica. Talvez fosse Jahu, ou Jeho, que se incorpora em algumas formas rituais como hallelu-já (deus seja glorificado) e em muitos nomes próprios da história hebraica, entre os quais Jeho-shua (socorro de deus) que estranhamente é confundido hoje, ora com Josué e ora com Jesus.
Pode ser que se tenha chegado à forma Javé sob a influência de uma etimologia teológica que pretendia aproximar o nome divino de uma forma do verbo ser: “aquele que é”. De resto também esta divindade tinha uma consorte celeste, e a sua história não se diferencia muito, até a reforma profética, da história de todos os outros deuses posteriores ao período pastoral que se transformaram de época em época de acordo com as vicissitudes do desenvolvimento da sociedade. Diz o Prof. Ambrogio, inspirador destas linhas que  no século III d.C., quando a atividade pastoril se rebaixara profundamente, um rabino mostrará a contradição entre o apelativo de “pastor” que a Bíblia dá a divindade e a pouca consideração em que era tida então aquela atividade. 

Origem do nome  Jehovah

Quanto à forma Jehovah, ela tem uma origem perfeitamente clara e é devido a uma pura e simples transliteração litúrgica.
Cada vez que encontrava nas sagradas escrituras as quatro consoantes (ou “tetragrama”) do nome divino JHVH, sem as vogais, que só foram acrescentadas muitos séculos depois do início da era cristã, o sacerdote hebreu e o próprio leitor comum eram levados desde tempos imemoráveis, em virtude da regra do tabu, que proíbe pronunciar o nome do deus do clã, a substituí-lo, quando declamado em voz alta, pelo termo Adonai, “o meu senhor”. Muito mais tarde no início da idade Média, as vogais desta palavra foram inseridas entre as quatro consoantes do nome JHVH para facilitar a leitura obrigatória e impedir que se violasse de qualquer modo a antiga proibição, transformada em rígida norma de fé: daí Jahovah ou Jehovah.. O nome de Jeová é de inteira derivação indo-européia e está associado ao conceito do deus do “céu”, da “luz”.
As divindades dos povos que habitavam a Palestina antes dos hebreus eram predominantemente agrícolas e sedentários: as pedras sagradas, as plantas sagradas, as forças da natureza (sol, chuva, vento, insetos) e os Baal ou “senhores”, o equivalente celeste dos “senhores” da terra, dos lugares altos e dos campos cultivados. Diferentemente do ser supremo e das vagas forças misteriosas veneradas pelos nômades. A vitória das tribos hebraicas sobre estas populações, no período da conquista da Palestina, é apresentada pela Bíblia como uma vitória dos poderes divinos de Israel sobre os Baal inimigos, que foram gradualmente reduzidos à função de seres demoníacos (Astarte-Astarote; Baal Peor-Belgafor; baal Zebub-Belzebu; Bel-Belial ou Beliar, etc.

 

Formação da verdadeira religião hebraica

A verdadeira religião hebraica, tal como era praticada no momento em que nasceu o cristianismo, formou-se num período ainda mais recente, quando as tribos que conseguiram ocupar a Palestina modificaram radicalmente o seu modo de vida e passaram a uma organização econômico-social baseada na predominância, das relações de escravidão.
Depois da divisão dos dois reinos, o de Israel, no norte, tendo Samaria como centro, e o de Judá no sul, tendo Jerusalém como capital com vida efêmera, pois com a deportação de milhares de famílias para a babilônia, no ano de 586 a.C.,a história dos hebreus como Estado nacional independente, praticamente termina: à opressão social características da época da escravidão, contra a qual já tinham reagido os primeiros “profetas” (Amós,Jeremias, o primeiro Isaías, etc.), acrescenta-se à dominação estrangeira nas suas formas mais brutais.
Além de muita gente reduzida à escravidão pelos invasores, dezenas de milhares de hebreus emigraram mais ou menos voluntariamente e estabeleceram em quase todos os centros habitados do mundo oriental, na bacia do Mediterrâneo e até na Índia e na China, fruto da falta de liberdade, surgiu e foi elaborada a idéia de um “salvador”, político e social, que só podia ser concebido com o aspecto de um novo “rei” (o messias), comandante de exércitos e libertador nacional.
Segundo o prof. Ambrogio, um dos quais me baseei para transcrever todas essas linhas até aqui, entende que a concepção de um “salvador”, identificou-se com a reforma monoteísta contribuindo para dar à religião dos hebreus aquele aspecto típico que séculos e séculos de história não conseguiram apagar.
Influência Suméria
Samuel N. Kramer, em seu livro, “Os Sumérios”, ele diz “mesmo as partes mais antigas da Bíblia, segundo se pensa, não foram escritas na sua forma atual muito antes de 1.000 a.C., enquanto a maior parte dos documentos literários sumérios foram compostos cerca de 2.000 a.C. ou pouco depois... As influências sumérias atingiram a Bíblia por via dos Cananeus, Hurritas, Hititas e Acádios – particularmente no que respeita aos últimos, uma vez que, como se sabe, o acádico era a língua usada em toda a Palestina e regiões circunvizinhas, no segundo milênio a.C., como língua comum a todo o mundo literário. É muito natural que  as obras literárias acádicas fossem bem conhecidas dos homens de  letras palestinianos, incluindo os hebreus...Há muitos eruditos que concordam que embora a saga de Abraão, contada na Bíblia possa ter muito de lenda e imaginação, possui uma parte importante de verdade, incluindo o nascimento de Abraão na Ur dos Caldeus, talvez por volta de 1.700 a.C., lugar onde passou sua juventude. Ora, Ur foi uma das cidades mais importantes da Suméria antiga. O patriarca Abraão e os seus antepassados devem claramente ter tido conhecimento das produções literárias sumérias que foram  copiadas ou criadas  na sua  própria terra-pátria. É muito possível que tanto ele como sua família, tivessem trazido com eles, o saber e a tradição sumérios para a Palestina, lugar onde passaram a constituir parte das tradições e fontes  usadas pelos homens de letras palestinianos na composição e redação dos textos da Bíblia.
Seja como for, eis uma lista de assuntos da Bíblia que parecem demonstrar influências sumérias:
1)      A Criação do Universo. Os sumérios, tal como os antigos hebreus, pensavam que tinha existido um mar primordial, antes da criação. O Universo era  constituído por céu e terra, unidos de algum modo neste mar primordial, e que tinha sido o deus do ar Enlil  que os separara;
2)      A Criação do  Homem. Segundo Hebreus e Sumérios, o homem fora concebido a partir do barro e nele insuflado,  o sopro da vida;
3)      As técnicas  da criação foram essencialmente realizadas de dois modos: pela palavra e pela feitura ou moldagem do material. Em qualquer dos dois casos pelo planejamento divino;
4)      O Paraíso. Não se encontram muitos paralelos sumérios para a descrição do Éden e da queda do Homem, mas existem alusões significantes para fins comparativos;
5)      O Dilúvio. Como já é há muito reconhecido, as versões sumérias do herói Gilgamesh e bíblicas do dilúvio, mostram semelhanças estreitas e óbvias;
6)      O assunto Caim e Abel. A rivalidade era um dos temas favoritos dos sumérios;
7)      A torre de Babel e a dispersão da Humanidade.  A história da construção da Torre  tem origem na tentativa de explicar a existência dos “zigurates mesopotâmicos” e outros importantes paralelos que o autor capta como: “O Deus Pessoal”, A Lei, mostrando inúmeras semelhanças entre as leis hebréias e o código de Hammurabi.


 3.3. HISTÓRICO DA TEORIA DOCUMENTAL DO PENTATEUCO
A construção ou formação do conceito monoteísta hebraico está ligado intimamente as declarações contidas no Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). E a sua autoria como sendo de Moisés ou não deve ser analisada.
Hipótese Documental
Até o surgimento da filosofia deística (no século dezessete), a sociedade dita Cristã, sempre aceitou literalmente as declarações contidas no Pentateuco, que o livro foi composto pelo Moisés histórico do século quinze a.C. Porém, em 1670, Alguns estudiosos judeus como Benedito Espinoza, sugeriram a possibilidade da autoria posterior de pelo menos parte da Torá (como é conhecido parte do antigo testamento pelos judeus), além disso  Moisés não poderia ter registrado sua própria morte, que se descreve no capítulo34 de Deuteronômio. Apesar dessas argumentações terem sido ignoradas em grande parte, na sua própria geração , constituiu uma antecipação marcante  daquilo que seria a formulação final da hipótese documental, feita por Graf, Kuenen e Wellhausen na Segunda metade do século XIX, prevalecendo  a rejeição da inspiração sobrenatural do Pentateuco e uma análise crítica dos livros da Bíblia.
História crítica do Pentateuco

Até o Séc. XVI não houve dúvida a respeito da autoria mosaica do Pentateuco.
O Renascimento provocou uma volta aos estudos clássicos e também o aparecimento de críticos que queriam se  aprofundar melhor naquilo que receberam, eis alguns:

- A. Karlstad (†) 1541- destaque a Deuteronômio Cap. 3,Vers.14;
- A. Maes (†) 1513;
- Isaac de la Peyrére (†) 1676;
Ele dizia que Deuteronômio 3,14 supõe uma distância dos fatos. Logo, Moisés não teria escrito o Deuteronômio. Também em Números 21,14: o livro das guerras é que seria de Moisés e não todo o Pentateuco. Dizia também que haveria uma contradição entre Ex 18,5 e 4,20. Mas tais críticos ficaram sem ressonância. A crítica mesmo começa no séc. XVIII, o “século das luzes”.

- Richard Simon (†1712) – sacerdote católico, insiste no conhecimento do mundo antigo, do ambiente histórico-geográfico do livro. Leva em conta o lado humano do livro. Aponta repetições no Pentateuco, desordens lógicas, diferença de estilo, etc. diante desses argumentos, propõe a seguinte solução: Moisés escreveu na base de tradições pré-mosaicas. Diz que Moisés tem sua obra arrematada por Esdras.

- Jean Astruc († 1766) – convertido do Calvinismo, médico da corte de Luiz XIV. Usa o autor do Pentateuco nomes diferentes para designar Deus. Esta é sua 1a colocação. Diz também que colocando em colunas às vezes em que aparece “Eloim” e “Javé”, vai-se ver que há mais de um autor narrando episódios inteiros. Além destes dois documentos, há uma 3a série de versículos que não se enquadram nem em A nem em B. assim, chega a detectar três fontes no Pentateuco. Diz que Moisés colocou estas fontes separadas, mas que depois alguém as ajuntou. daí, diz ele, a confusão atual.

- J. G. Eíchlon († 1827) – Continua propondo a hipótese documentária, reconhecendo os documentos característicos pelo nome de Deus. Também diz que existem documentos anteriores a Moisés. Um redator posterior, desconhecido, teria feito a fusão destes documentos. A compilação final do Pentateuco seria posterior a Moisés, que vai de Josué a Samuel. Este autor fala pela primeira vez de Priestercodex (Código Sacerdotal), que depois será desenvolvido pela crítica.

- W. M. L. de Wette († 1849) – admite no Pentateuco 39 fragmentos (hipótese fragmentária), dos quais alguns poderiam ser atribuídos a Moisés. O texto que hoje temos seria a lenta aglutinação dos textos. A 1a síntese seria o Deuteronômio, que já existia na época de Davi e Salomão. A fusão num único escrito foi elaborado no final do reino de Judá (587 a.C). Estes fragmentos seriam distintos um do outro pelo estilo, pelo enfoque.

- H. G. A. Ewald († 1875) – hipótese complementária. Reage contra a extrema dissecação do Pentateuco. Fala de um documento básico (grunderschrft), que seria Eloísta. A ele, terá sido acrescentado um complemento com a predominância do nome de Javé.

- Hupfeld († 1866) – opôs-se a essa concepção e preferiu a hipótese fragmentária e foi fragmentando em E1, E2, E3, J1, J2, J3.
E assim chegamos à hipótese atualmente aceita:

- Julius Wellhausen († 1918) – hegeliano, de personalidade forte, protestante racionalista. Tem dois livros importantes. “A Composição do Hexateuco” e “Introdução à História de Israel”

Aspecto filosófico-religioso

Julius Wellhausen, discípulo de Ewald em matéria de crítica e também do século XIX. É contemporâneo de Darwin (Evolucionismo) e de Hegel, com sua teoria de tese, antítese e síntese.
1) Para ele a primeira forma de religião é a religião dos sentimentos (em oposição à religião da razão). Julga encontrar vestígios de crenças primitivas nos textos bíblicos. Assim, o “efod” (1Sm 2,18; 14,18s; 23,9s; 30,8), os amuletos (2Mac 12,40), os “terafin” (Jz 17,5). Posteriormente aparece a condenação de fazer tais coisas (Ex 34,3; 23,24; Dt 7,5; 12,3). Isto tudo é base para que Wellhausen diga que a própria religião de Israel começou com tais práticas primitivas. Que admitia muitos deuses, almas desencarnadas dos mortos, deuses inferiores entre o deus maior e o homem, com os quais o homem lida diretamente e que influem na vida do homem (1Sm 28,3-19; Lv 19,31; 20,6.27; Dt 18,11; 1Sm 28,9).
[Amuleto vem de “amolire” = afastar; talismã, palavra árabe, é um objeto ao qual a magia atribui proteção];

2) Diz também que Moisés teria atingido a monolatria, isto é, muitos deuses, em geral, mas adoração a um só. Moisés teria consagrado o povo ao Deus do Monte Sinai, mas isto não excluía culto a outros deuses, embora isso não fosse previsto. Esta nomenclatura estaria presente nos códigos Javista e Eloísta;

3) Os profetas terão introduzido o monoteísmo ético. O tempo dos profetas surge propriamente no tempo da monarquia instituída, embora em Jz 4-5 já haja vestígios de uma profetiza. Os profetas são muito insistentes no culto a um só Deus e na pureza de coração. Mas exageravam neste monoteísmo ético com o nomismo (exagero da lei). Juizes e Ezequiel procuravam a religião do coração.
Wellhausen é guiado por um espírito racionalista e fortuito, mas se desliga de Abraão. Doutro lado, por causa de Darwin se estudou muito as religiões dos antepassados. Por causa disso, a escola Vienense, dos Padres do Verbo Divino, também se interessou pelo estudo dos povos primitivos (Terra do Fogo, selvas africanas, Alasca) e explorou estes povos, para estudar sua religião. Aprenderam sua língua, sua cultura e verificaram que todos estes povos têm sua crença religiosa e quanto mais primitiva é a civilização, mais é religiosa (o que contradiz Darwin), pois vai endeusando tudo aquilo de que depende.
Logo, os povos primitivos são politeístas. E Abraão, no meio de todos estes povos, é monoteísta, bem como depois seus descendentes. E apesar de algumas infiltrações supersticiosas, o povo permaneceu monoteísta.

Argumentos literários e  lingüísticos

Assumindo as hipóteses anteriores, Wellhausen admitia 4 fontes:
- séc X - Javista - em 950 a.C. Salomão começa a reinar. Tem grande corte e julga-se que, sob Salomão, se fez uma nova compilação das tradições, que veio a ser o código Javista, redigido em Jerusalém.

- séc VIII – Eloísta - Nos séculos IX/VIII as tribos se separam e no Reino do Norte há uma nova compilação.
A partir do século XIX se estuda muito o que se chama “história das formas literárias”. Cada modo de redigir é influenciado pelo tempo e pelo espaço que o cercam, pois cada ambiente tem sua cultura. Isto influencia a redação, pois o ambiente vai exigir uma determinada forma de redação.  Este estudo leva em conta o “sitz im Lebem”. As tradições religiosas foram sempre redigidas neste contexto. A consciência disto faz com que os críticos reunam os textos com características semelhantes para ver a data e as circunstâncias de origem.
A fonte E surge após o cisma de 930 a.C., no Reino do Norte e a nota predominante é o nome de Deus como Eloim.

- Século VII - Deuteronômio (Deuteronomista)  =>  Escola  que  escreve segundo a mentalidade de Deuteronômio => Josué – Reis)
 A origem do Deuteronômio deve ter sido a seguinte: após o cisma existem os santuários no Reino do Norte (Israel) e têm levitas, que se encarregam de uma catequese para os peregrinos. Tal catequese consistia na repetição da Lei. Em 721 a.C., Israel cai sob os assírios. Sua terra é mesclada pelos assírios e os levitas se refugiam em Judá (que cai só em 587 a.C., sob os babilônios). Certamente os levitas devem ter guardado em Jerusalém, no templo, um ou mais deuteronômios. Assim, Judá conhece os reinados de Ezequias (716-687 a.C.), Manassés (687-642 a.C.) e Josias (640-609 a.C.). Ezequias é um rei bom, piedoso, que favorece o culto. Segue-se, porém, um período trágico, com reis idólatras, etc e o templo vai sendo esquecido, entulhado, etc.  Mas depois vem Josias, outro rei piedoso, que manda limpar o templo (622 a.C.) e então descobre os deuteronômios. Lendo-os, vê quanto o povo estava afastado de Deus e resolve fazer uma reforma religiosa. O texto que Josias encontrou no templo é uma parte do Deuteronômio de hoje.
Portanto, a fonte D é oriunda dos santuários da Samaria e descoberta em Jerusalém (622 a.C).

- Sec V - Priestercodex (Sacerdotal)
surge durante o exílio (587-538 a.C) e depois. Ezequiel é o profeta que acompanha o povo para a Babilônia e lá faz a recompilação das tradições religiosas, visto que praticamente tudo se tinha perdido com o incêndio de Jerusalém. A escola de Ezequiel (da qual é sacerdote) refaz a compilação.
Julga-se que tenha havido uma justaposição entre Javista e Eloísta e depois  Priestercodex (Sacerdotal) é acrescentado. Provavelmente Esdras, no séc V a.C., faz a compilação final do Pentateuco.

Há também alusões à monarquia em Dt 17,14-20 e Gn 36,31. Terá sido Moisés quem escreveu ou foi no tempo da monarquia? Também há textos em que parece que o autor já está na terra prometida, pois enxerga a leste do Jordão (Gn 50,10s; Nm 22,1; Dt 1,1.5). O autor parece estar longe da época de Moisés (Dt 3,14; 34,6.10).

A autoria do Pentateuco

Começando com o triunfo do deísmo e continuando através do dialeticismo hegeliano e do evolucionismo darwiniano no século XIX, o veredito tem sido contrário à autoria mosaica. Segundo  a crítica, as primeiras porções escritas daquela mistura literária conhecida como Livros de Moisés, não tinham uma data anterior ao nono ou oitavo século a.C. Atualmente algumas concessões tem sido feitas por alguns estudiosos, quanto à possibilidade de alguns fios de tradição oral terem sido oriundos de Moisés, mas quanto à forma escrita, a tendência tem sido fazer do Pentateuco uma obra pós-exílica. No geral, porém, a autoria mosaica não tem sido considerada como uma opção genuína para as pesquisas liberais desde o final do século XIX. A batalha fora travada e ganha no distante começo do século dezenove, e foram principalmente os edificadores da Teoria Documental que baniram Moisés para as brumas iliteratas da tradição oral.



4. OUTRA CONSTRUÇÃO

Qual é a explicação que dá contas do motivo da distribuição de Jahweh e Elohim através da Tora?
Um estudo cuidadoso da etimologia e uso dos dois nomes revela que a escolha do nome depende do contexto da situação. Elohim (que é talvez derivado duma raiz que significa “poderoso”, “forte”, “adiantado”) é empregado para descrever Deus como poderoso Criador do universo e Senhor sobre a natureza e sobre a raça humana em geral. Por este motivo, só Elohim seria apropriado em Gênesis Cap. 1, sendo que ali se trata do assunto da criação.
Jahweh, do outro lado, é o nome do Deus da aliança, que se reserva para situações nas quais se levanta a comunhão entre Deus e os homens.
Esta distinção entre os dois nomes de Deus foi claramente percebida e definida pelo Rabino Judá Halevi já no século doze d.C., quando definiu que Elohim é o nome divino em geral, enquanto Adonay (no lugar do nome Jahweh) especificava o Deus da revelação e da aliança.
Apesar de os teóricos da Teoria Documental pertencerem a  uma escola de pensamento que rejeita qualquer tentativa de estabelecer doutrinas cristãs  através de textos bíblicos comprobatórios, eles mesmos se tornaram campeões do método de textos, que é insistir na interpretação literal das palavras em um ou dois versículos, sem o mínimo respeito ao contexto ou à analogia dos ensinamentos bíblicos noutros trechos.
É muito significante que, em anos recentes, até alguns dos estudiosos liberais europeus destacados tenham abandonado a exegese tradicional wellhausiana de Êxodo. Assim, Ivan Engnell (Gamla Testament, 1955) escreveu: “Os nomes divinos diferentes tem associações ideológicas diferentes, e portanto, uma significação diferente. Assim, facilmente se emprega a palavra Jahweh quando se trata do Deus nacional de Israel, nomeado como tal, em contraste com os deuses estrangeiros, e quando se trata da história dos Patriarcas, enquanto o nome Elohim “Deus”, dá vazão a um conceito mais “teológico”, abstrato, cósmico de Deus, em contextos maiores e mais movimentados... Assim pois, é o tradicionalista, o mesmo tradicionalista que varia o emprego dos nomes  divinos, e não os “documentos”. Sigmund Mowinckel, declara também que: “Jahweh não está contando qual o seu nome a quem não o conhece. Moisés está pedindo alguma evidência comprobatória pela qual seus patrícios possam saber, quando Moisés para eles voltar, que é realmente o Deus dos seus antepassados que o enviou... e a conversação inteira pressupõe que os israelitas já tivessem conhecido o nome”.
Os dois episódios nos quais Abraão fez Sara passar por sua irmã, perante o Faraó (Gn 12:10-20), e perante Abimeleque de Gerar  (Gn 20:1-18), são, segundo  a alegação dos críticos, formas variadas da mesma lenda original. Mas a suposição que os homens nunca cometem o mesmo erro duas vezes, ou que nunca caem perante a mesma tentação mais do que uma vez, é, no mínimo, uma ingenuidade, especialmente quando se considera que Abraão saiu financeiramente bem em ambas as ocasiões.


4.1. EVIDÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS PELA ANTIGUIDADE DO PENTATEUCO


1) A descoberta do arquivo de Ebla no norte da Síria nos anos 70 tem mostrado que os escritos bíblicos concernentes aos Patriarcas são de todo viáveis. Documentos escritos em tabletes de argila de cerca de 2.300 A.C. mostram que os nomes pessoais e de lugares mencionados nos registros históricos sobre os Patriarcas são genuínos. O nome "Canaã" estava em uso em Ebla - um nome que críticos já afirmaram não ser utilizado naquela época e, portanto, incorretamente empregado nos primeiros capítulos da Bíblia. A palavra "tehom" ("o abismo") usada em Gênesis 1:2 era considerada como uma palavra recente, demonstrando que a história da criação foram escrita bem mais tarde do que o afirmado tradicionalmente. "Tehom", entretanto, era parte do vocabulário usado em Ebla, cerca de 800 anos antes de Moisés.   Costumes antigos,   refletidos  nas  histórias dos Patriarcas,   também  foram
descritos em tabletes de argila encontrados em Nuzi e Mari;


2) Os Hititas eram considerados como uma lenda bíblica até que sua capital e registros foram encontrados em Bogazkoy, Turquia. Muitos pensavam que as referências à grande riqueza de Salomão eram grandemente exageradas. Registros recuperados mostram que a riqueza na antiguidade estava concentrada com o rei e que a prosperidade de Salomão é inteiramente possível. Também já foi afirmado que nenhum rei assírio chamado Sargon, como registrado em Isaías 20:1, existiu porque não havia nenhuma referência a este nome em outros registros. O palácio de Sargon foi então descoberto em Khorsabad, Iraque. O evento mencionado em Isaías 20 estava inclusive registrado nos muros do palácio. Ainda mais, fragmentos de  um obelisco  comemorativo da  vitória  foram encontrados  na  própria
Cidade de Asdode;                                    

3) Outro rei cuja existência estava em dúvida era Belsazar, rei da Babilônia, nomeado em Daniel 5. O último rei da Babilônia havia sido Nabonidus conforme a história registrada. Tabletes foram encontrados mais tarde mostrando que Belsazar era filho de Nabonidus e co-regente da Babilônia. Assim, ele podia oferecer a Daniel "o terceiro lugar no reino" (Daniel. 5:16) se ele lesse a escrita na parede. Aqui nós vemos a natureza de "testemunha ocular" do registro bíblico freqüentemente
confirmada pelas descobertas arqueológicas;

4) O documento hebraico mais antigo descoberto até agora é o calendário de Gezer, escrito cerca de 925 a.C (achado por um arqueólogo chamado Macalister na década de 1900). Mas sendo que se tratou de dum exercício de menino de escola, isto demonstra que a arte de escrever era tão conhecida em Israel no decurso do décimo século, e praticada em tão grande escala que esta técnica era ensinada até às crianças nas regiões campestres;


5) Os Tabletes ugaríticos, ou de Ras Shamra (descobertos por Schaeffer em 1929), são datados de cerca de 1.400 a.C. foram inscritos com um alfabeto de 33 letras, exprimindo uma linguagem mais semelhante ao hebraico do que a qualquer dialeto conhecido das línguas semíticas. Consistem principalmente em poesias épicas religiosas que se referem a divindades tais como El, Baal, Anate, Asenate e Mote, exibindo o politeísmo depravado tão típico dos cananitas da época da conquista pelos israelitas. Destacam alguns termos religiosos que, segundo as alegações de Wellhausen, eram invenções pós-exílicas. Isto decerto comprova o fato de que estes termos técnicos do sacrifício eram propriedade comum da área cananita durante uns mil anos antes da data do seu aparecimento segundo as datas postuladas pela Hipótese Documental. Algumas das palavras raras e duvidosas da poesia hebraica ocorrem também nos documentos de Ras Schamra, lançando luz sobre seu significado;
6) Mais antigo ainda do que a literatura de Ras Schamra é o sortimento de inscrições alfabéticas achado nas minas de turquesas de Serabite el-Cadim, antiga Dofcá, com data de 1.500 a.C. ou antes.  Estas inscrições  hieroglíficas (descobertas por Petrie em 1904) exibem um sistema alfabético que nos fornece  a chave da origem das letras do alfabeto fenício. É obvio que os autores destas inscrições eram os mineiros semíticos empregados pelos egípcios. A conclusão natural é que a escrita era tão amplamente divulgada entre os semitas da época pré-mosaica, que até as classes mais baixas podiam ler e escrever;

7) No século vinte surgiram abundantes confirmações da narrativa bíblica, através das seguintes descobertas arqueológicas: a) a cidade de Ur na Suméria do sul foi completamente escavada por Leonard Woolley (1922-34), e foi demonstrado que era uma cidade grande com civilização florescente, que desfrutava duma civilização avançada cerca de 2.000 a.C., que seria precisamente o período de Abraão. Mantinha-se escolas para a educação dos jovens, e tábuas de escrever, com exercícios escolares. Os pesquisadores atestam que os jovens eram treinados em leitura, escrita, aritmética e religião; b) o nome Abram foi descoberto em tabletes datando do século dezesseis a.C. Por exemplo, um tablete datado de 1.554 a.C., isto é o décimo-primeiro ano de Amisaduga da Babilônia, registra que um fazendeiro chamado Abarama alugou um boi. Dois outros tabletes referem-se ao mesmo homem com o nome Abamrama.;

8) Quanto a carreira de Abrão na Palestina, as escavações em Siquém e Betel revelam que estas cidades eram habitadas na época de Abraão;

9) Os críticos antigos como Nöldeke rejeitavam Gênesis Cap. 14, diziam que os nomes dos reis da Mesopotâmia eram fictícios, que não existia maneira de fazer a viagem direta da Mesopotâmia até a Palestina nos dias de Abraão. Mas quanto a possibilidade de ter existido um Quedorlaomer, rei de Elão, descobertas posteriores revelaram que de fato uma dinastia elamita estabeleceu uma suserania temporária sobre Sumer e Acádia, e alguns destes reis tinham nomes que começavam com “Kudur”, que quer dizer “servo”, e que existia uma deusa elamita chamada Lagamar.

10) O s Tabletes Mari foram descobertos por Parrot em Tell Hariri no Eufrates central em 1933. Estes vinte mil tabletes foram escritos em Acadiano durante o século dezoito a.C., e confirmam a existência da cidade de Nakhur (nomeada segundo o irmão de Abraão, Naor segundo Gênesis 24:10. Mencionam também o nome Aryuk (Arioque) como sendo nome corrente no começo do segundo milênio a.C.. Até mencionam os Habiru (que é provavelmente a forma acadiana do termo cananita ibhiim ou “hebreus”), uma designação que na narrativa de Gênesis se aplicou em primeiro lugar a Abraão, mas que segundo a evidência das escritas cuneiformes se aplicava a certos grupos de nômades guerreiros ou “povo do outro lado”, que podem ou não ter tido algum relacionamento étnico uns com os outros.

  11) Os tabletes de Nuzu ou Nuzi, achados por Chiera e Speiser em Nuzi (perto de Quircuque) no rio Tigre em 1925, remontam ao século quinze a.C. e revelam uma forte influência hurriana tipo de acadiano empregado nos vários milhares de tabletes descobertos. Servem como confirmação da historicidade de muitos usos e costumes seguidos por Abraão e pelos demais patriarcas antes da sua estadia no Egito.

12) A Estela “Israel” do Faraó Merneptá, achada por Petrie em Tebas em 1896, foi inscrita em 1229 a.C, e contém a única referência entre os egípcios (daquilo que sobreviveu até a nossa época) à nação hebréia como sendo “Israel”.

4.2. EVIDÊNCIAS POSITIVAS DA AUTORIA MOSAICA

1) O próprio Pentateuco testifica que Moisés foi seu autor. Acham-se estas declarações explícitas: êxodo 17:14: “escreve isto para memória num livro ... porque hei de riscar totalmente de Amaleque de debaixo do céu”.; Êxodo 24:4: “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor...”; e versículo 7: “E tomou o livro da aliança, e o leu ao povo...”; Deuteronômio 31:9: “Esta lei escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes...”;

2) Em outros livros do antigo Testamento, achamos referências tais como estas: Josué 1:8 “Não cesses de falar deste livro da lei; antes medita nele dia e noite, para que tenha cuidado de fazer segundo a tudo quanto nele está escrito...” ; Josué 8:32: ”Escreveu ali em pedras uma cópia da lei de Moisés, que este já havia escrito diante do filhos de Israel”;

3) O Novo Testamento também testifica a autoria mosaica. Além das numerosas referências à Torá pelo nome “Moisés”, selecionamos as seguintes citações que enfatizam a personalidade do Moisés histórico. Mateus 19:8 “Por causa da dureza dos vossos corações é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres...”; João 5:46,47: “Porque se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim;Porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?”; João 7:19: “Não vos deu Moisés a lei? Contudo ninguém entre vós a observa”; Atos 3:22: “Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim...”  Obs: Se aceitarmos a teoria documental será lógico também não aceitarmos como verdadeiros, tanto a Cristo como os Apóstolos;

4) Detalhes apropriados a uma testemunha ocular aparecem na narrativa do êxodo que indicam um participante real nos acontecimentos, mas que estariam além do conhecimento dum autor vivendo séculos após os eventos. Por exemplo, em êxodo 15:27, o autor registra o número exato de fontes (doze) e de palmeiras (setenta) em Elim. Números 11:7,8 registra a aparência e paladar do maná com o qual Deus alimentou Israel (sem dúvida para informar as futuras gerações vivendo na terra conquistada de Canaã, onde, segundo Moisés sabia, não haveria maná);
5) O autor de Gênesis e Êxodo demonstra conhecer profundamente o Egito, conforme se espera de quem participou do Êxodo: conhece os nomes egípcios, tais como: On, o nome nativo (`wnw em hieróglifos) de Heliópolis; Pitom, transliterando Pr-tm (“Casa de Atum – um deus”), Asenate, de Ns-N`t (“Favorita de Neite” – uma deusa), esposa de José;

6) Emprega no Pentateuco uma maior porcentagem de palavras egípcias do que em qualquer outra parte do Antigo Testamento;


7) O autor da Torá demonstra um ponto de vista consistentemente estrangeiro ou extrapalestiniano quanto a Canaã: a) as estações e o tempo que se mencionam na narrativa são egípcios, não palestinianos;b) a flora e fauna que se mencionam são egípcias ou sinaíticas, nunca distintivamente palestinianas;c) animais marinhos como texugos que se acham nos mares adjacentes ao Egito e ao Sinai, mas que são desconhecidos na Palestina;d) As listas de aves e animais puros e impuros em Levitico Cap.11 e Deuteronômio Cap.14 incluem alguns que são específicos do Sinai;e) quanto à geografia, o autor estava muito familiarizado tanto com o Egito como com o Sinai. A narrativa do caminho do Êxodo está repleta de referências locais autênticas que foram verificadas pela arqueologia moderna;

8) A atmosfera de Êxodo até Números é indubitavelmente a do deserto, e não dum povo agrícola estabelecido nas suas propriedades ancestrais há quase mil anos (segundo Wellhausen supunha). A tremenda ênfase dada ao tabernáculo, uma grande tenda que era o centro do culto, está completamente fora de propósito para o caso de autores vivendo séculos depois da construção do templo de Salomão (templo que, em muitos detalhes importantes, era diferente do Tabernáculo, especialmente na mobília). Mas seria completamente relevante para um povo nômade constantemente marchando pelo deserto;

9) No livro de Gênesis mais especificamente, há referências a costumes arcaicos cuja existência pode ser demonstrada para o período do segundo milênio a.C., mas que não existiam mais no primeiro milênio.Como por exemplo nos documentos legais de Nuzi, onde foram descobertos, datando do século XV a.C., há referências ao costume de gerar filhos legítimos através de servas (como Abraão fez com Hagar); a validez dum testamento oral no leito de morte (como aquele de Isaque para Jacó)
10) Há uma unidade de arranjo bem marcante, que subjaz o Pentateuco como um todo, vinculando todas as partes para produzir uma totalidade progressiva, embora os estágios sucessivos da revelação (no decurso das quatro décadas da carreira de Moisés como escritor) resultem num pouco de justaposição e repetição. Por implicação, até os documentaristas foram forçados a reconhecer esta unidade, ao apelar para um redator hipotético que seria a explicação da boa ordem e harmonia de arranjo da forma final da Tora conforme chegou até nossa época;

11) As qualificações de Moisés são evidentes para que ele pudesse ter sido o autor do Pentateuco: a)possuía a educação e um passado apropriados para esta obra, sendo que recebera dos seus antepassados aquela riqueza da lei oral que teve sua origem nas culturas mesopotâmicas da época, bastante recuada de Abraão (daí algumas semelhanças marcantes ao Código de Hamurabi, do século dezoito a.C.);e dos seus tutores na corte egípcia recebia treinamento naqueles ramos de sabedoria nos quais o Egito da 18ª Dinastia superava o restante do mundo antigo; b) dos seus antepassados, Moisés naturalmente teria recebido uma tradição oral exata da carreira dos Patriarcas e das revelações que Deus lhes tinha feito; c) teria um conhecimento pessoal do clima, da agricultura e da geografia do Egito e da Península do Sinai tão patentemente demonstrado pelo autor do Pentateuco; d) teria bastante incentivo à composição desta obra monumental, sendo que era fundador da comunidade de Israel, e que estes seriam os alicerces morais e religiosos nos quais sua nação haveria de cumprir seu destino; e) é certo que Moisés tinha bastante tempo, no decurso dos quarenta  longos e enfadonhos anos da peregrinação no deserto do Sinai para compor uma obra até muitas vezes maior do que a Tora. Além disto, acabara de sair do meio duma cultura na qual a arte da escrita era tão largamente cultivada que até os artigos de toucador usados pelas mulheres de casa tinham etiquetas gravadas. A escrita, tanto em letras hieroglíficas como em letras hieráticas, era tão amplamente divulgada no Egito da época de Moisés, que parece absolutamente incrível afirmar que Moisés deixaria de registrar seus anais por escrito (que até os críticos do século XX querem negar), sendo que Moisés tinha em suas mãos os assuntos mais grandiosos e significantes para serem registrados do que  qualquer coisa que possa existir em toda a literatura humana. Numa época na qual até os escravos semíticos (sem o privilégio da cultura) empregados nas minas egípcias de turquesa em Serabite el-Cadim estavam gravando seus assuntos nas paredes dos seus túneis, é falta total de bom senso supor que um líder da experiência e cultura dum Moisés seria por demais iliterato para não deixar por escrito uma única palavra. 

 

4.3. FRAQUEZAS E FALÁCIAS DA TEORIA WELLHAUSIANA

 Baseando-nos na descrição resumida  que já foi dada anteriormente  da hipótese documental, vamos indicar de maneira superficial, as fraquezas e falácias mais óbvias que invalidaram a totalidade da abordagem Wellhausiana desde sua própria concepção:
1) A teoria Documental tem sido caracterizada por uma espécie sutil de raciocínio em círculos; tende a postular sua conclusão (“a Bíblia não é uma revelação sobrenatural”) como sua premissa básica (“não pode existir algo chamado revelação sobrenatural”). Aquela premissa, é claro, era um artigo de fé para toda a liderança intelectual na época do iluminismo (l’Éclaircissement, na França, die Aufklärung, na Alemanha) do século dezoito; estava implícito na filosofia prevalecente do deísmo. Infelizmente, porém, tornou impossível qualquer consideração justa das evidências apresentadas pelas Escrituras da revelação sobrenatural. Além disso, tornou-se absolutamente obrigatório descobrir explicações racionalistas e humanistas para cada aspecto ou episódio no texto das Escrituras que tem algo de milagroso ou que testifica a manifestação de Deus. Mas esta tentativa de tratar objetivamente como dados literários do ponto de vista de preconceito anti-sobrenaturalista se destinava ao fracasso desde o início. É como a tentativa do daltônico de julgar as grandes obras-primas da pintura;

2) Alegava-se que a teoria de Wellhausen se baseava na evidência do próprio texto, mas a evidencia do texto é consistentemente evadida quando vai claramente contra as teorias. Por exemplo, os documentaristas insistiam, “Os livros históricos do Antigo Testamento não demonstram que reconhecem a existência da legislação P ou do código mosaico escrito antes do fim do exílio”. Quando veio a resposta a esta declaração, demonstrando que numerosas referências à Lei Mosaica e às instruções P foram descobertas nos livros históricos, veio da parte deles a réplica: “Ah, bem, estas referências são interpoladas posteriores feitas por escribas e sacerdotes que reeditaram estes livros depois do Exílio”. Isto quer dizer que o mesmo corpo de evidência ao qual se apela comprovar a teoria, se rejeita quando entra em conflito com a teoria. Ou, em outras palavras, cada vez que a teoria é desafiada pelos próprios dados que ela alega explicar, então o time capacitado para eliminar dificuldades, Redator e Interpolador Ltda., recebem a chamada de socorro. Táticas ilusórias como estas dificilmente poderiam justificar a confiança e integridade dos resultados;

3) Os documentaristas pressupõem que os autores hebraicos são diferentes de quaisquer escritores conhecidos em toda a história da literatura pelo fato de só eles não possuírem a capacidade de empregar mais do que um nome para Deus; mais do que um só estilo de escrita, seja qual for a diferença no assunto tratado; mais do que um entre vários sinônimos da mesma idéia; mais do que um tema típico ou círculo de interesse. Segundo estas teorias, um autor único como (citando um exemplo brasileiro) Rui Barbosa não poderia ter escrito pesquisas literárias, como Ensaio sobre Swift, reportagens vivas e cintilantes da atualidade da época, como em Cartas da Inglaterra, e ainda a grande obra de polêmica religiosa, que é sua versão de “O Papa e o Concílio”. Se tivesse sido um hebreu antigo, decerto suas obras já teriam sido mutiladas, dentro da hipótese das fontes múltiplas, A,B e C! A estrutura inteira da divisão das fontes foi construída sobre pressuposições exclusivistas que não são demonstradas na literatura de nenhuma outra nação e de nenhum período;

4) Preconceitos subjetivos se revelam no tratamento das Escrituras hebraicas como evidência arqueológica. Por demais freqüentemente a tendência tem sido considerar qualquer declaração bíblica como sendo suspeita e indigna de confiança, embora que a própria antigüidade do Antigo Testamento (mesmo pelas datas atribuídas pelos críticos) deveria recomendá-lo para ser considerado como documento arqueológico. No caso de qualquer discrepância, na comparação com uma fonte pagã, mesmo sendo de data posterior, automaticamente a informação pagã tem a preferência como testemunha histórica. Quando não há outras evidências disponíveis de fontes não israelitas ou de algum tipo de descoberta arqueológica, então  a declaração bíblica não é levada a sério a não ser que possa ser encaixada com a teoria. Não faz diferença para eles o grande número de informações bíblicas que, rejeitadas como não históricas pelos peritos do século dezenove tem sido confirmadas pela evidência arqueológica posterior (como a historicidade de Belsazar, os Heteus e os Horeus), a mesma atitude de preconceito prejudicial contra a Bíblia tem persistido, sem a mínima justificativa. (Seria uma ingenuidade supor que os relatórios pagãos do Egito, da Babilônia e da Assíria – em contraste com as Escrituras hebraicas com seus elevadíssimos padrões morais – eram livros de tendências propagandistas ou preconceitos partidários). O arqueólogo W. F. Albright tem o crédito de ter dirigido uma boa parte dos seus esforços eruditos no sentido de reabilitar a reputação do Antigo Testamento como registro do passado no qual se pode confiar. Em numerosos livros e artigos, demonstrou, repetidas vezes que a narrativa Bíblica tem sido vindicada contra seus críticos, pela descoberta arqueológica recente;

5) A escola de Wellhausen começou com a  suposição (a prova da qual  tem sido alvo de muitos esforços da parte deles) que a religião de Israel era de origem meramente humana como qualquer outra, e que precisava ser explicada como mero produto da evolução. Não fazia diferença para eles que nenhuma outra religião conhecida (a não ser aquelas que surgiram da fé dos hebreus) tem chegado ao monoteísmo genuíno; os israelitas também devem ter começado com animismo e politeísmo cru, exatamente como as demais culturas antigas. A evidência esmagadora em contrário, desde o Gênesis até Malaquias, que a religião israelita era monoteísta desde o começo até o fim tem sido evadida nos interesses dum dogma preconcebido: que não pode existir aquilo que se chama religião sobrenaturalmente revelada. Por este motivo, todas as narrativas simples e diretas em Gênesis e no restante da Torá que descrevem as experiências de Abraão, Isaque, Jacó e Moisés tem sido sujeitadas a uma reanálise cínica, procurando demonstrar que um retoque monoteístico foi aplicado àqueles antigos dignitários politeístas pelos assim-chamados “Deuteronomistas” ou a escola Sacerdotal de época posteriores;

6) Quando por meio de manipulação engenhosa do texto, se produz uma “discrepância” ao interpretar uma passagem fora do contexto, não se aceita nenhuma explicação que reconciliaria a dificuldade,  mas, pelo contrário, a suposta  discrepância  precisa  ser  explorada  para “comprovar” diversidade de fontes. (Cf. a discrepância que Pfeiffer  imaginava ver entre duas narrativas do assassinato de Sísera.  Segundo  ele,  Juízes Cap. 5,  versículos 25-27 diz que Jael o matou com seu martelo e estaca de tenda enquanto bebia leite; Juízes 4.21 diz que o fez enquanto Sísera dormia. Na realidade, o texto de Juizes 5.25-27, não declara que estava bebendo no momento do impacto, mas seria inútil dizer isto a Pfeiffer, pois já dividiu as “narrativas discrepantes”entre Javista e Eloísta);

7) Embora literaturas semíticas antigas demonstrem numerosas instâncias de repetição e de duplicação pelo mesmo autor na sua técnica de narrativa, é somente a literatura hebraica que não tem licença de empregar tais repetições ou reduplicações sem trair uma autoria diversa. É instrutivo estudar a literatura sectária das cavernas de Cunrã, para perceber até que época os israelitas continuavam a empregar a repetição com o propósito de enfatizar. Por exemplo, compara-se placa I com placa IV do Manual de Disciplina, onde os requisitos para se entrar na comunidade monásticas são esclarecidos de tal maneira que convidaria os serviços peritos do divisor de fontes documentárias;

8) Com auto-confiança altamente questionável, a escola de Wellhausen presumiu que críticos europeus modernos, que não tem em mãos nenhuma outra literatura antiga hebraica com a qual podiam fazer comparações (pelo menos, quanto ao período bíblico), podem fixar a data da composição de cada documento, com exatidão científica. Supõem também que podem ter a liberdade de emendar o texto ao substituir palavras mais comuns pelas palavras raras ou incomuns preservadas no texto massorético, que eles não entendem, ou que não acham cabíveis no contexto. Como estrangeiros, vivendo numa época e numa cultura totalmente diferentes, se sentiam competentes para lançar no descarte ou reembaralhar frases ou até versículos inteiros quando seus conceitos ocidentais de consistência ou de estilo foram ofendidos;

9) Supuseram, além disto, que estudiosos vivendo 1.400 anos após os eventos pudessem (mormente na base de teorias filosóficas) reconstruir com mais segurança a ordem dos acontecimentos da época do que os próprios autores antigos (que viviam dentro de 600 ou 100 anos daqueles eventos, mesmo pelas datas avançadas que os próprios críticos dão).

Em resumo, o Prof. Gleason, autor do livro: “Merece confiança o Antigo Testamento”, diz que é muito duvidoso se a hipótese de Wellhausen mereça a posição de respeitabilidade científica. Há tantas alegações forçadas para pleitear a causa, tantos argumentos em círculo, tantas deduções questionáveis tiradas de remissas não substanciadas, que é absolutamente certo que sua metodologia nunca subsistiria num foro jurídico. Quase nenhuma das leis de evidência que se respeitam em procedimentos legais se obedece entre os arquitetos da Teoria Documental.

  

5. CONCLUSÃO

Depois de ler muitos  livros, ir a bibliotecas, navegar na Internet, posso afirmar com tranqüilidade que a controvérsia sobre o Monoteísmo hebraico continuará sendo motivo de muita pesquisa, muitas indagações, pois é um assunto que toca num ponto sensível de uma boa parte da humanidade, que é o sentimento religioso.  Observei que muitos procuraram estudar a Bíblia. Muitos tentando buscar de maneira isenta, a verdade.
Posso afirmar que milhares de livros já foram escritos tentando confirmar que o monoteísmo hebraico é mais uma invenção humana e outros sobre as evidências da inspiração divina da Bíblia. Estas evidências são muitas e variadas. Infelizmente, esses livros não são tão lidos atualmente o quanto seria desejável.
Na verdade, a maioria das pessoas que questionam a veracidade da Bíblia nunca a leram! Essas pessoas tendem a aceitar a crença popular de que a Bíblia está cheia de erros e que não é mais importante em nosso mundo moderno. Entretanto, os escritores da Bíblia afirmam repetidas vezes que eles estavam transmitindo a própria Palavra de Deus: infalível e tendo autoridade em si própria no mais alto grau possível.
Se os homens que escreveram as Escrituras estavam errados em fazê-la, ou fizeram por conta própria, então eles estavam ou mentindo, ou eram loucos, ou as duas coisas. 
Mas, por outro lado, se o maior e mais influente livro de todas as épocas - um livro que contém a mais bela literatura e o mais perfeito código moral já imaginado. Foi produzida em uma época politeísta ou seja, adoravam vários deuses, sendo que ela prega o monoteísmo ou seja um único Deus, jamais sendo representado por esculturas, em um período em que se adoravam imagens de escultura. Se ela foi escrita por um bando de fanáticos, ou mesmo por uma classe política dominante para manter a existência de uma nação, então surge a pergunta: há alguma esperança de encontrar sentido e propósito neste mundo?
 Wellhausen usou uma filosofia materialista, que não cabia dentro da fé do povo de Israel. Negava o transcendente, sem se perceber o específico do Pentateuco, que é transcendental. Além disso, tinha poucos conhecimentos do antigo Oriente, por causa da escassez de fontes, na época . Hoje, por exemplo, sabe-se que o povo de Israel tinha contatos com outros povos vizinhos e é preciso colocá-los dentro desta corrente semitizante para entender a literatura. Além disso observei, lendo as várias teorias, as quais só pude transcrever algumas, que ao lado destes estudos sobre o Antigo Testamento, havia estudos sobre a origem do cristianismo. Era toda uma concepção de religião revelada que estava em choque. Abalando-se a fundamentação transcendente do Pentateuco, abalava-se também o fundamento do cristianismo.
Mas descobri também que o assunto não está esgotado e continuará sendo motivo de muita pesquisa ainda, também de buscas pela Arqueologia e pelas pessoas de ciência, que tentarão achar respostas cada vez mais racionais e completas a respeito da origem do ser humano que envolve de alguma forma, as situações que foram narradas pelo Pentateuco, que para muitos já possui as respostas que muitos cientistas procuram.


6. BIBLIOGRAFIA

- Os Sumérios, de Samuel Noah Kramer, Livraria Bertrand;
- A Presença de Deus na História, de Kurt Dietrich Schmidt, Editora Sinodal;
- O Monoteísmo, de G Ruggieri, B Lang, C Duquoc, J. Combin, Editora Vozes Ltda;
- Segredo das Civilizações Perdidas, de Clifford Wilson, Nova Época Editorial Ltda;
- Geografia Bíblica, Sob o enfoque histórico e étnico, de Osvaldo Ronis, da JUERP;
- Antiguidade Oriental Política e Religião, de Ciro Flamarion Cardoso, da Editora Contexto;
- Merece Confiança o Antigo Testamento, de Gleason L.Archer Jr, da Edições Vida Nova;
- A Bíblia e as Civilizações Antigas, de J. MacKEE Adams, Ph. D., da Editora Dois Irmãos.